27 de Março de 2008 - Quinta-feira

É incrível como a Ritinha percebe de longe quando eu não estou legal. Bem cedinho ela apareceu aqui trazendo um croissant de chocolate. Foi uma surpresa muito boa saber que ela iria passar o dia comigo. Ela trouxe até seu notebook para estudar aqui em casa. Gente, essa minha amiga é muito fofa.

E papo entre a gente é o que não falta. Podíamos ficar falando uma eternidade que ainda teria assunto de sobra. Aquele lance de ontem complicou meu lado, mas quando a gente conversa de outras coisas, outras relações, esquecemos um pouco de nossas dores.

- E aí Ritinha, e o irmão da Malú? Ouvi dizer que ele está caidinho por você!
- Tá me dando uma baita canseira, isso sim. Você não sabe.
- Conta...
- Outro dia ele me ligou dizendo que pegou uma foto minha no álbum da Malú e colou no espelho do quarto dele.
- Que bonitinho! Ele te liga direto?
- Ai, todo dia Rê. Não sei o que fazer.
- Deixa a vida te levar um pouco, menina! Dá uma chance pro coitado!
- Que chance que nada. Eu quero ficar quietinha no meu canto.
- Olha que depois vai fazer falta hein nega! -Ela riu a beça. -Não rola nem uns beijinhos?
- Tô fora, Rê. Ele é meio estranho.
- Estranho como?
- Ah, sei lá! Ele coleciona insetos!
- Blergh! Sério?

Quando bateu aquela fome, fomos comer uma saladinha a umas duas quadras daqui, num restaurante ótimo naturalista. Afinal, eu não fui um dia sequer na academia essa semana.

Tinham três gatinhos por lá que não paravam de nos secar. Mas esse povo é muito devagar e tivemos que dar área antes de surgir qualquer atitude. Azar deles!

O dia passou depressa e não deu tempo nem de pegar minha roupa na lavanderia.

Quando a Malú me ligou no final do dia ficou toda enciumada porque não havíamos a chamado. Mas ela sabe que a Ritinha faz estágio só duas vezes por semana, ficando mais fácil vir consolar as amigas. Prometemos visitá-la amanhã à noite.

Estou bem mais calma e tranqüila.

Tomara que o cara do 32 tenha uma excelente noite com muito amor e ternura junto a sua loirinha dentuça. Gente, mas ela é feia demais! E ele também não tem critério... quer dizer, comigo teve, mas com ela não! Me fala... como é que não brocha?

Mas eu nem quero que isso aconteça, viu... sem ressentimentos! (rs)

26 de Março de 2008 - Quarta-feira


Bati o recorde. Levei três horas pra me aprontar. Tive que acordar às cinco e meia, pois tenho que chegar na Unilever (primeira entrevista do dia) às dez. Depois vou ver direitinho o que aquele filho da mãe do 32 quer comigo. O dia promete!

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Comecei bem. Cheguei atrasada na Unilever. Tenho certeza que foi um ponto negativo, mas no final acho que mandei bem. Fiz alguns testes e participei de uma dinâmica. Se deus quiser vou ser selecionada.

Bom, à tarde foi bem diferente. Cheguei na empresa do cara do 32 e na hora de anunciar minha presença, paguei um puta mico, pois esqueci que eu não sabia o nome dele. Ai, que ódio!

Sorte que ele apareceu no corredor e eu dei um tchauzinho pra chamar a atenção. Ele parou e ficou olhando pra minha cara rindo durante uns dois minutos. Me senti péssima! Que palhaço!

Enquanto a diretora que ia me entrevistar terminava de atender uma pessoa, ele me levou pra uma sala de reunião pequena e ficou explicando o funcionamento da empresa. Eu não sei se eu estava prestando atenção no que ouvia e não sei se ele estava prestando atenção no que falava. O fato é que a gente ficou lá, num clima super estranho, desviando o tempo todo o olhar um do outro.

Mas eu sabia que aquilo não estava cheirando bem. Ele parou de falar, pegou minha mão e começou a beijá-la. Eu estava me sentindo mega constrangida, pois além de estar num ambiente profissional, sentia-me no preâmbulo de um assédio. E por mais que eu goste de homens com atitude, aquilo estava mais parecendo uma armadilha de muito mal gosto. A verdade é que pela segunda vez eu não resisti, e a gente ficou se pegando por toda a sala. Foi uma loucura! Nunca tinha passado por uma experiência dessas. Já pensou se alguém entrasse? A sorte é que metade do escritório tinha saído para um treinamento.

Com muito receio fui fazer depois a entrevista com a diretora. Cheguei a pensar que era mesmo só um golpe daquele lunático. Fiquei a entrevista inteira meio envergonhada, com a neura de que ela tinha visto tudo. Nem me lembro direito das coisas que eu falei. Com certeza dei bola fora!

E o pior não é isso. Aquele cretino nem me esperou. Quando terminamos a entrevista ele já tinha ido embora. Ele sabe mesmo como me deixar louca da vida.

Chegando em casa, fui direto pro apê dele, sem pensar duas vezes. Eu não podia deixar quieto, queria falar um monte! Mas adivinha? Uma loira tingidássa de aparelho nos dentes (horrível!) atendeu a porta com cara de quem estava esperando uma pizza. Eu quase me atirei pela janela. Pra despistar perguntei se era do 52 (porque de três pra cinco só muda uma perninha) e vazei!

Liguei pra Ritinha mega nervosa contando o que aconteceu. Que ele me usou, me desrespeitou, me fez de idiota e ainda me humilhou. Ela me consolou um pouco, mas está difícil esquecer as coisas. Droga, to super triste...

25 de Março de 2008 - Terça-feira

Quando estava saindo hoje cedo para uma entrevista, o porteiro me entregou um recado do cara do 32. Ele deixou o número do celular com uma mensagem seca “preciso falar com você”.

Mas ele acha o que? Que eu estou desesperada atrás dele? Eu não vou ligar não. Em hipótese alguma.

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Fiquei a tarde toda intrigada com o bilhete.

“Preciso falar com você”. O que será que ele quis dizer com isso? Precisa mesmo falar comigo ou é só uma desculpa pra gente se trombar de novo? Ou será que ele escreveu propositalmente para eu ficar nesse estado de paranóia? Bom, resolvi ligar. A primeira vez tocou e ninguém atendeu. A segunda tocou só duas vezes e parou. A terceira caiu na caixa postal. Agora chega! Até porque ele já tem meu número na lista de chamadas não atendidas e eu não vou ficar levantando o ego de ninguém.

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Fui tomar um sorvete no shopping pra esquecer esse trem e na volta ele me ligou.

- Oi gata!
- Oi.
- Eu vi umas sete chamadas suas aqui na minha caixa postal. Desculpe, eu fiquei em reunião a tarde toda.
- Ah tá.
- Seguinte: tivemos um problema com uma funcionária que foi transferida para outra unidade aqui da empresa. Estamos procurando uma pessoa para substituí-la.
- Pra fazer o que?
- Você pode passar aqui amanhã?
- Amanhã só posso à tarde. De manhã tenho outra entrevista.
- Pode ser.
- Quem eu procuro?
- Pode me procurar.

Não sei se isso foi bom ou não. Quer dizer que ele só queria falar comigo por causa da droga da entrevista? Que petulância!

24 de Março de 2008 - Segunda-feira


Acordei super cedo com o telefone aqui de casa tocando. Nem pensei duas vezes... usei a velha técnica do "Fingi que não ouvi". Estava chapada de sono! Depois tocou também o celular. Quem disse que eu teria paz? Como é possível que alguém queira falar com outro alguém a essa hora! E o cretino ainda ficou insistindo! Esperava uns três minutos entre uma ligação e outra e depois ligava novamente. Ele tentou uma, duas, três quatro, cinco... na sexta eu resolvi atender. Imagina meu humor. E pra piorar, era um daqueles vendedores insuportáveis de cartão de crédito. Já estava sem paciência, e ainda fui obrigada ouvir os dezenove mil benefícios de ter mais um cartão. Graças as deus, no terceiro a linha caiu.

Fui almoçar na casa da minha mãe. Ela preparou tanta coisa que eu achei que viria toda família dinossauro. Minha mãe não tem noção! Acabei comendo demais. Vou ter que ralar amanhã na academia pra compensar.

À tarde dei uma dormidinha básica e umas cinco e meia a Malú passou em casa querendo que eu fosse com ela no aniversário da sobrinha. O Carlinhos precisava trabalhar até tarde e ela não queria ir sozinha. Que belo programa! E estava um tédio! Talvez eu é que estivesse meio desanimada o dia todo, mas agüentar festa de criança na segunda a noite é forçar a amizade! Fala sério! Na volta, a Malú ainda veio brigar comigo.

- Nossa, mas você tá numa animação hoje, hein nega!
- Pois é! É que você não costuma andar sozinha, né? Se eu não fosse, você também não iria. Eu te conheço.
- Ah tá, desculpa. Não devia nem ter passado na sua casa pra te atormentar. Que idéia fraca a minha de querer sua companhia! Onde eu estava com a cabeça?
- É que eu tô precisando de um pouco de sossego, sabe?
- Eu sei bem do que você tá precisando!

Eu que já estava sem paciência, respondi no mesmo nível. A Malú não é fácil.

O pior é que quando cheguei em casa, o porteiro veio me avisar que o cara do 32 tinha me procurado. Fiquei mega animada, mas durou pouco, porque ele tinha saído de carro há uns vinte minutos. Que droga! Estou louca da vida! Além de eu ter brigado com a Malú, eu ainda perdi a oportunidade de falar de novo com o cara do 32. O dia não podia ter terminado pior.

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O efeito da raiva passou. Tomei um chazinho de camomila e fiquei me esforçando para só pensar em coisas positivas.

Pronto! Vou ligar pra Malú pra pedir desculpas. Acho que fui rude demais. Coitada, passou aqui pra contar comigo e eu chutei o pau da barraca.

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Ficamos falando um tempão, e comecei a me sentir bem melhor. Estava contando pra ela os detalhes da festa de ontem, até que ela perguntou:

- Ah então foi por isso que você não atendeu minha ligação hoje de manhã? Chapou a cara e não conseguiu nem se mexer, né sua pinguça? - Ela falou rindo. Eu me mantive calada. - Eu te liguei umas oito vezes, acredita?!

Gente, dá pra acreditar? Que ódio eu tenho da Malú!